Durante o Império Brasileiro, o açúcar era uma das principais bases econômicas do país e o seu consumo estava intimamente ligado ao status social, resultando em problemas dentários significativos para a elite.
O Açúcar como Símbolo de Status
Nos séculos anteriores e no início do século XIX, o açúcar era um produto caro e raro na Europa e, por extensão, nas cortes, sendo acessível quase que exclusivamente à realeza e à nobreza. O consumo excessivo arruinava os dentes, e, ironicamente, dentes pretos ou cariados tornaram-se um sinal visível de riqueza e alto status social. Havia até relatos de pessoas que pintavam os dentes de preto intencionalmente para parecerem mais aristocráticas.
A Mudança de Percepção
Com a popularização do açúcar no século XIX, devido ao aumento da produção em larga escala (inclusive no Brasil, que era um grande produtor colonial), ele deixou de ser um luxo restrito. Consequentemente, os dentes deteriorados perderam o "glamour" e passaram a ser motivo de vergonha. A partir de então, o ideal de dentes brancos e saudáveis começou a surgir, primeiro entre os mais ricos, com a publicidade e a indústria de higiene bucal ganhando força.
Cuidados Dentários na Época
Os cuidados dentários na corte e na população em geral eram muito diferentes dos atuais:
- Profissionais: Os tratamentos dentários eram frequentemente realizados por barbeiros, sangradores ou práticos sem formação específica, pois a odontologia ainda não era uma profissão autônoma, mas parte da medicina.
- Higiene: Métodos de higiene incluíam o uso de gravetos (miswak), panos, dedos ou folhas para raspar a sujeira. Com a chegada da família real portuguesa em 1808, houve um incentivo à difusão de informações sobre higiene bucal e o uso de escovas de dentes começou a se popularizar entre as diferentes classes, embora as pastas e pós dentais fossem rudimentares.
- Tratamentos: Extrações de dentes eram comuns, muitas vezes sem anestesia, e consideradas a única solução para problemas graves.
Portanto, o açúcar, que era a base da economia do Império e símbolo de poder, foi também o principal causador dos problemas dentários da elite, cujos hábitos de consumo contrastavam com a falta de métodos eficazes de prevenção e tratamento da cárie dentária na época.
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